Carta aberta ao 1º Ministro José Sócrates
Abaixo transcrevo um email que recebi e que fala por si só. Cada
um que tire as suas conclusões.
"CARTA ABERTA AO ENGENHEIRO JOSÉ SÓCRATES
Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras motivadas
por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente
sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica
e assenta NUM DIREITO QUE O SENHOR AINDA NÃO ELIMINOU: o de manifestar
publicamente indignação perante a mentira e as opções
injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega
à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa,
segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis
primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios
da nossa economia. Sendo a administração pública
a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é
quase masoquista o seu comportamento.
Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1.º Do Statics in Focus n.º 41/2004, produzido pelo departamento
oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que
a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais
dos funcionários públicos é inferior à mesma
despesa média dos restantes países da Zona Euro.
2.º Outra publicação da Comissão Europeia, L´Emploi
en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado
em relação à totalidade dos empregados de cada país
da Europa dos 12. E o que vemos? Que em média nessa Europa 25,6
por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em
Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a
mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha.
As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente
32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o
peso da administração pública e o défice,
como estaria o défice destes dois países?
3º. Um dos slogans mais usados é do peso das despesas da saúde.
A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante
é de 1458. Em Portugal esse gasto é ... 758. Todos os restantes
países, com excepção da Grécia, gastam mais
que nós. A França 2730, a Austria 2139, a Irlanda 1688,
a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração
pública é um poço de virtudes. Não é.
Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome.
Particularmente na saúde, na educação e na justiça.
É um santuário de burocracia, de ineficiência e de
ineficácia. Mas infelizmente os mesmos paradigmas são transferíveis
para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo
em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, lançando
um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão
reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado.
A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas
piores. De entre muitas razões que o espaço não permite,
deixe-me que lhe aponte duas:
1.º Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos
têm-se dito barbaridades . Como é sabido, a taxa social sobre
os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo
trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão ).
OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PAGAM OS SEUS 11 POR CENTO.
Mas O SEU PATRÃO ESTADO NÃO ENTREGA MENSALMENTE À
CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES, COMO LHE COMPETIA E EXIGE AOS
DEMAIS EMPREGADORES, os seus 23,75 por cento. E é assim que as
"transferências" orçamentais assumem perante a
opinião pública não esclarecida o odioso de serem
formas de sugar os dinheiros públicos.
Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram
ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma
ser calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses.
Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará
nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice
das iniquidades que subjazem á sua política o ministro Campos
e Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos
por acumular aos seus 7.000 Euros de salário, os 8.000 de uma reforma
conseguida aos 49 anos de idade e com 6 anos de serviço. E com
a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem
numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2.º Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou
a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia
dos seus encantos, baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia
em 3,3 e a Alemanha em 3,2.
3º Por outro lado, fala em austeridade de cátedra, e é
apologista juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana
do Castelo, da implosão de uma torre ( Prédio Coutinho )
onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações,
mais a indemnização milionária que pede o arquitecto
que a construiu, além do derrube em si?
4º Por que não defende V. Exa a mesma implosão de uma
outra torre, na Covilhã ( ver ' Correio da Manhã ' de 17/10/2005
) , em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não
vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto
Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro
Ministro deste país?
• Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões
de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social
?
• Por que não pôs em prática um plano para fazer
a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais
Tributários e que somam 20 mil milhões de Euros ?
• Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais
que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros ?
• Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos,
que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento
de impostos ?
• Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento
que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos
que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500
milhões de Euros de receita perdida ?
A Verdade e a Coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou
para se diferenciar dos seus opositores.
QUANDO SUBIU OS IMPOSTOS, QUE PERANTE MILHÕES DE PORTUGUESES GARANTIU
QUE NÃO SUBIRIA, FICÁMOS TODOS ESCLARECIDOS SOBRE A SUA
VERDADE.
QUANDO ELEGEU OS DESEMPREGADOS, OS REFORMADOS E OS FUNCIONÁRIOS
PÚBLICOS COMO PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE COMBATE AO DÉFICE,
PERCEBEMOS DE QUE TEOR É A SUA CORAGEM.
Santana Castilho (Professor Ensino Superior)"
