Carta aberta ao Chefe Supremo das Forças Armadas
Transcrevo carta que recebi por email. Para quem não é militar e costuma criticar os mesmos, tenho uma palavra a dizer:
Não tiveram coragem para jurar defender a pátria com a própria vida, foram e são cobardes que vivem escondendo a cabeça como as avestruzes, batem palmas a um bando de abutres que lhes acenam com vãs promessas nunca cumpridas. Têm até mais do que merecem, hipócritas que vivem batendo nas costas do seu vizinho, e no momento seguinte são capazes de o apunhalar pelas costas.
"Dr. Sampaio,
Eu não uso uniforme mas faço parte das fileiras. Não
estou subordinada à cadeia de Comando, mas o meu marido está,
e isso eu não posso esquecer. Não disparo armas, nem participo
em missões, mas a minha função é também
difícil, pois sou eu quem fica para trás.
O meu marido é um patriota, bravo e orgulhoso, em casa eu vejo
os sacrifícios que ele faz, mas também eu e os nossos filhos
os fazemos.
Filha de militar, irmã de militar e casada com um militar, eu melhor
do que ninguém conheço o valor destes homens.
Durante os primeiros quinze anos da minha vida, sempre vi o meu pai como
uma figura distante, quase mítica, pois as comissões de
serviço em Africa e, posteriormente as deslocações
constantes no País, fizeram com que o visse muito esporadicamente
e, quando regressou finalmente a casa, fê-lo como deficiente das
Forças Armadas, devido a um acidente de serviço.
O meu irmão, ao serviço da Armada, parte em missões
que duram meses e, excepto em raros fins de semana, o único contacto
possível é por telefone.
Hoje sou eu, desejando que a minha família não sofra o ?castigo?
da separação imposto pela organização militar,
sacrifico a minha carreira para poder acompanhar o meu marido. Em cada
nova casa alugada colocamos as fotos da família nas paredes, tentando
manter os laços que a distância tende a quebrar. O Sr. não
pode sequer imaginar o que é ver partir o pai dos nossos filhos
sem saber se haverá um regresso, ouvir o telefone tocar há
noite e sentir o coração acelerar com o pânico...
Dr. Sampaio, após ter ouvido as palavras do senhor Ministro da
Defesa, é com profunda revolta que venho em defesa do meu marido
e de todos aqueles que, como ele, optaram pela vida castrense. Não
deveria ser eu a fazê-lo, de acordo com os regulamentos militares
é à hierarquia que compete a defesa dos interesses dos militares.
Sendo o senhor o Chefe Supremo das FA, venho lembrar-lhe que existe uma
condição militar e que, como tal, comparar os militares
com os demais servidores do Estado, é inaceitável. Durante
toda a sua carreira, o militar convive com risco. Seja nos treinos, na
sua vida diária ou até mesmo nas ditas missões de
paz, a possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é
um fato permanente de sua profissão.
Ao ingressar nas Forças Armadas, o militar tem de obedecer a severas
normas disciplinares e a estritos princípios hierárquicos,
que condicionam toda a sua vida pessoal e profissional. O militar não
pode exercer qualquer outra actividade profissional, o que o torna dependente
de seus vencimentos, historicamente reduzidos, e dificulta o seu ingresso
no mercado de trabalho, quando na inactividade.
O militar mantém-se disponível para o serviço ao
longo das 24 horas do dia, sem direito a reivindicar qualquer remuneração
extra ou outra qualquer compensação. O militar pode ser
movimentado em qualquer época do ano, para qualquer região
do país.
O militar não usufrui alguns direitos sociais, de carácter
universal, que são assegurados aos trabalhadores, dentre os quais
incluem-se: remuneração pelo trabalho nocturno superior
à do trabalho diurno; jornada de trabalho diário limitada
a oito horas; obrigatoriedade de repouso semanal remunerado; e remuneração
de serviço extraordinário, devido a trabalho diário
superior a oito horas diárias.
Quando o senhor ministro da defesa diz que os militares também
têm de fazer sacrifícios, esqueceu-se de referir os que acabei
de mencionar e, esqueceu-se ainda, de mencionar que as exigências
da profissão não ficam restritas à pessoa do militar,
mas afectam, também, a vida familiar, no que se refere a formação
do património familiar é extremamente dificultada; a educação
dos filhos é prejudicada; o exercício de actividades remuneradas
por cônjuge do militar fica, praticamente, impedido; o núcleo
familiar, não estabelece relações duradouras e permanentes
na cidade em que reside...
Esqueceu-se de referir que existem militares colocados no estrangeiro
que vêem os seus vencimentos pagos em dólares, sujeitos à
sorte das oscilações cambiais e cuja ultima actualização
foi feita em 1991! Não referiu que os reembolsos por despesas de
saúde demoram meses a ser pagas e que há militares que há
15 anos que esperam por uma promoção.
Sabe senhor Chefe Supremo das FA, ao ouvir o Ministro da Defesa ameaçar
com processos disciplinares os militares que se juntaram ordeira e pacificamente,
solicitando que ouvissem a sua voz, recordei-me de si. Sabe, senhor Presidente,
eles só se reuniram naquele local, porque aqueles que, como o senhor,
deviam garantir os seus direitos e pronunciar-se em sua defesa, se calam
cobardemente. É muito fácil calar quem não tem voz!
Recordei-me também de alguns dos actuais políticos que no
passado, se refugiaram algures em França, Espanha e esperaram até
que estes mesmos homens que hoje atacam e a quem negam direitos elementares,
libertassem o País, regressando então, puderam organizar
manifestações politicas, conquistar cargos bem remunerados
e, agora, reprimir aqueles que lhes garantiram essas liberdades.
Foi o senhor que disse que ?há vida para além do défice?,
hoje, talvez comprometido com a cor politica do governo, o seu silêncio
é ensurdecedor.
Como Chefe Supremo das FA é para si que estas pessoas, a quem é
negado o direito à indignação, olham esperançados.
É o Chefe, é aquele que os deve defender da trama politica
e maldizente que os enreda e olhe Senhor Presidente, que isso que lhe
pedem não é nada comparável com o que a nação
que o senhor representa lhes poderá vir a pedir um dia! A única
diferença é que quando necessário eles darão
o seu melhor, mesmo com o sacrifício da sua vida, e o senhor? Continuará
em silêncio?!
Margarida Santos
Esposa de Militar"
