Bombeiros: Liga reconhece problemas (O caso de Castedo)

O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, disse ontem que o sistema de socorro dos bombeiros voluntários “apresenta vulnerabilidades e insuficiências graves em concelhos pequenos de Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Guarda”.

Ontem, após a publicação no CM de gravações que revelam falhas no auxílio a António Moreira, residente em Castedo, que morreu na madrugada de terça-feira, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) anunciou a colocação daqui a dez meses de uma ambulância de Suporte Básico de Vida no concelho. Alijó tem desde 27 de Dezembro o Serviço de Atendimento Permanente encerrado no horário nocturno. Também nenhuma das seis corporações de bombeiros locais possui um protocolo com o INEM que preveja uma ambulância tripulada por enfermeiros.

Depois de constatada a incapacidade de resposta dos Bombeiros de Favaios, os Bombeiros de Alijó chegaram meia hora após serem chamados. Já a viatura médica do INEM de Vila Real chegou 44 minutos depois da chamada, em vez dos 30 minutos que estão estipulados.

Duarte Caldeira sustenta que o bombeiro de Favaios “cometeu um erro”. “Perante a situação de emergência não quis dizer que não, embora não tivesse condições para responder.” Sublinha que o caso demonstra que o INEM não faz a cobertura nacional no pré-hospitalar a que está obrigado. Fonte do INEM defende que “embora não exista acordo com os Bombeiros de Alijó, estatutariamente os bombeiros têm obrigação de efectuar serviços”.

INQUÉRITO INTERNO EM FAVAIOS

O comandante Carlos Silva, do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Vila Real, reconhece que “não foi dada uma resposta adequada” por parte do bombeiro que estava em Favaios. “É um lapso que não pode acontecer”, disse ao CM, acrescentando que em condições normais “tal situação nunca ocorreria”. “Acontece porque um filho do operador esteve doente e ele teve que se ausentar temporariamente”, explica, adiantando que a corporação de Favaios está a fazer averiguações internas. Recusando que tenha havido falta de coordenação entre as corporações de bombeiros envolvidas, Carlos Silva lembrou que a situação acabou por ser resolvida com recurso a Alijó que, em sua opinião, “foi eficaz”.

INEM PREPARA ALTERNATIVA AO GPS

Os pedidos de informação feitos durante a operação de socorro de terça-feira, em Castedo, revelam que a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Vila Real não dispõe de um sistema de orientação geográfica (GPS). Luís Cunha Ribeiro, presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), disse ontem na SIC que está a ser organizado um sistema com base em cartas geográficas actualizadas para colmatar esta lacuna, alegando que em certos casos os GPS apresentam dificuldades em situações de última hora. “Por vezes as pequenas localidades não vêm mencionadas. Surgem maiores dificuldades perante um corte de estrada ou situação de nevoeiro”, disse.

BOMBEIROS SOZINHOS

"O senhor caiu pelas escadas. Quem ligou diz que já está morto!"

Operadora do CODU telefona para os Bombeiros de Favaios às quatro da manhã

"Ah!... Pois, e agora o que quer que se faça?"

Único bombeiro de serviço no Quartel de Favaios

"É preciso ir lá eu?"

Bombeiro

"Obviamente é para lá ir a ambulância e iniciar suporte básico de vida."

Operadora do CODU

"Olhe, mas arranco para lá eu?"

Bombeiro

"Então eu estou a dar-lhe uma saída e pergunta-me a mim o que vai fazer? Nunca tal me aconteceu!"

Operadora

"Eu estou sozinho."

Bombeiro

"Uma saidinha para Castedo."

Operadora volta a telefonar, mas aos Bombeiros de Alijó

Castedo é Favaios!

Único bombeiro que estava a essa hora no quartel de Alijó

"Pois é. Mas Favaios está só com um senhor e a ambulância."

Operadora

"Aqui também não tenho ninguém."

Bombeiro

"Só fica o senhor sozinho de noite na corporação? Então se há um incêndio?"

Operadora

"Tenho de tocar a sirene."

Bombeiro

"Tem de tocar a sirene. Valha-me Deus!"

Operadora

João Saramago / A.C."