Crise? Qual crise?
Acresce ainda que todos têm direito a carro de alta cilindrada e a motorista próprio.
Sempre que foi instado a revelar os valores exactos auferidos o Governo remeteu-se ao silêncio quanto aos faraónicos vencimentos e reformas do conselho de administração do Banco de Portugal.
O Banco de Portugal remete para o Ministério das Finanças. Do Ministério das Finanças, a resposta é que é o próprio Banco de Portugal quem deve esclarecer a questão. Ambos, em separado, limitam-se a remeter para a lei que criou a comissão de fixação de vencimentos. Não é possível, sequer, saber quem são, em concreto, os actuais membros dessa comissão.
Escusas, no seu conjunto, como se esta fosse uma matéria reservada ao segredo dos deuses, que só adensam os motivos de preocupação e agravam o escândalo relativo às mordomias de que beneficiam o governador do Banco de Portugal e seus pares com assento na administração.
Em comparação, nos EUA, o salário do presidente da Reserva Federal é público e está disponível no ‘site’ da instituição, ao alcance de qualquer internauta. Basta um clique em http://www.federalreserve.gov/generalinfo/faq/faqbog.htm. Em Portugal, os vencimentos dos dirigentes do Banco de Portugal não são públicos. Por essa razão, há mesmo abusos escandalosos e uma total falta de transparência.
Vítor Constâncio ganhou mais de 280 mil euros só em 2006!
Os rendimentos do trabalho dependente de Vítor Constâncio totalizaram os 280 889,91 euros em 2005. Neste ano, só em aplicações financeiras e contas bancárias, o governador do Banco de Portugal declarou um montante global de 570 454,00 euros.
Estes são alguns dos números que se podem retirar da declaração que o governador do banco central entregou no Tribunal Constitucional (TC), relativas aos anos de 2005 e 2004.
Vítor Constâncio é ainda titular, nalguns casos a meias com a sua mulher, de uma habitação em Oeiras, 25% de um outro apartamento e de quatro prédios urbanos na zona de Estremoz.
Em comparação com 2004, a situação económica do governador não se alterou significativamente: ganhou nessa altura 272 628,08 euros, não tendo modificado a carteira patrimonial ao nível imobiliário.
As instituições financeiras nas quais Vítor Constâncio mais confia são o Banco Português de Investimento, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco Espírito Santo.
Aparente adepto de não pôr todos os ovos no mesmo cesto, Constâncio colocou no BPI a fatia maior das suas poupanças: 192 180,00 euros num fundo de investimento; 50 256,00 euros num plano poupança-reforma (PPR); 204 454,00 euros numa aplicação de capitalização; 16 664,00 euros numa carteira de títulos e ainda 65 810,00 euros em produtos derivados de bolsa.
Na CGD, o governador do Banco de Portugal tem um depósito a prazo de 119 222,00 euros e 86 680,90 euros num fundo de investimento.
O BES é responsável pela gestão de um outro fundo de investimento mais modesto, no valor de 21 868,00 euros.
O rendimento anual do governador do BdP aumentou em 2006, ascendendo neste ano a um valor de 282 191,00 euros, um acréscimo de 0,46 por cento face aos 280 889,91 euros ganhos em 2005.
A consulta da declaração de rendimentos entregue por Vítor Constâncio no Tribunal Constitucional revela que o governador do BdP contava também, em conjunto com a mulher, em 30 de Junho deste ano, com uma avultada carteira de activos financeiros: 209 637 euros em aplicações de capitalização; 198 239 euros em fundos de investimento; 114 438 euros em depósitos a prazo; 60 775 euros numa carteira de derivados; 50 690 euros em planos de poupança, entre outros. Por comparação, em 2005, os fundos de investimento ascendiam a 192 180 euros.
A fazer fé na declaração de 2005, Vítor Constâncio não tem dívidas, tendo liquidado no ano anterior o remanescente de um crédito imobiliário.
